terça-feira, 27 de abril de 2010
ELVIRA PAGÃ E ROSINA PAGÃ EM ALÔ,ALÔ CARNAVAL
Assis Valente
Incertezas cercam a origem de José de Assis Valente. Desde o local de seu nascimento, constando na certidão Campo da Pólvora, na Bahia, e que ele garantia ter sido entre Bom Jardim e Patioba, na mesma Bahia. Sabe-se que o dia do nascimento foi 19 de março de 1908, mas quanto ao pai, há controvérsias. Assis dizia ser filho de José de Assis Valente (fato que o tornaria Júnior), mas sua certidão de nascimento e uma meia-irmã informam ser o pai desconhecido. A mãe chamava-se Maria Esteves Valente.
Aos seis anos, foi raptado por um certo Laurindo que, achando "injusto um menino tão perspicaz viver em ambiente tão pobre", pediu para que a família Canna Brasil, de Alagoinhas, o criasse. Tudo correu bem até que o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, deixando o menino na Bahia. Encaminhado para um hospital, passou a viver ali como lavador de frascos da farmácia.
Em 1917, Assis se mudou para Bonfim, onde se tornou responsável pela farmácia do hospital. Invejosos, os farmacêuticos locais enviaram uma receita contendo poderoso veneno para ser por ele aviada. Leu a fórmula, recusou-se a prepará-la e seu prestígio cresceu. Mas a glória durou pouco: declamou um poema anticlerical em uma quermesse e foi destituído do cargo.
Passava um circo pela cidade, e o menino a ele se uniu, como comediante. Percorreu o Estado e, em Salvador, abandonou o circo, iniciando curso de prótese dentária e se empregando como desenhista em uma revista até que resolveu tentar a sorte no Sul. Desembarcou no Rio de Janeiro no final dos anos 20. Em seguida, já trabalhava como auxiliar de protético e, em pouco tempo, montava consultório próprio. Como desenhista das revistas Shimmy e Fon-Fon, aproximou-se do meio artístico. Conheceu Heitor dos Prazeres em 1932, que, ao ouvir suas primeiras músicas, incentivou-o a compor. Entre ser protético ou compositor, Assis ficou com as duas. Batucando na bancada do consultório, poesia e melodia nascendo juntas.
No mesmo 1932, Araci Cortes grava Tem francesa no morro, e ele conhece sua maior intérprete, Carmen Miranda, que grava Etc. e Good bye boy . Compõe Boas Festas, gravada por Carlos Galhardo, e Cai, cai, balão, (com Aurora Miranda eFrancisco Alves), ambas sucessos até hoje. O Bando da Lua grava Brasil pandeiro. Para Assis, foi a década de glória, que terminaria com a ida de Carmen - acompanhada pelo Bando da Lua para os Estados Unidos, em 1939. Antes de partir, a cantora gravaria Camisa listrada. O compositor perdeu a intérprete e o conjunto vocal favoritos.
Em 23 de dezembro de 1939, casou com Nadyle da Silva Santos, mas não foi feliz, a união terminando em 1941. Aos poucos, suas músicas caíam no esquecimento. Afundado em dívidas, inseguro quanto ao futuro, tenta o suicídio, pulando do alto do Corcovado. Foi salvo por uma árvore, que impediu a queda. Esforça-se para recuperar a carreira, compondo baiões, rancheiras, guarânias, na moda, mas fora de seu gênero. Em vão. Era sambista de letras brilhantes, reportagens sonoras, e não encontra mais espaço.
Rosina Pagã
ELVIRA PAGÃ
Elvira Cozzolino
6/9/1920 Itararé, SP
8/5/2003 Rio de Janeiro, RJ
Cantora. Atriz. Vedete. Compositora.
Irmã da cantora Rosina Pagã. Sua família mudou para o Rio de Janeiro quando ela ainda era criança. Estuou com a irmã no colégio Imaculada Conceição em Botafogo. Organizou com a irmã inúmeras festas das quais participavam inúmeros artistas entre os quais os integrantes do Bando da Lua. Formou com a irmã Rosina Pagã o duo vocal Irmãs Pagãs. Em 1940, se casou e encerrou a dupla com a irmã. Foi a primeira mulher a usar um biquine na praia de Copacabana, Chocou a sociedade dos anos 1950 ao posar nua e distribuir a foto em um cartão de natalEm 1935, estreou com a irmã num show de inauguração do Cine Ipanema no qual foram batizadas de Irmãs Pagãs pelo apresentador Heitor Beltrão. Atuou com a irmã na Rádio Mayrink Veiga. Ao todo gravou 13 discos com a irmã. Em 1935, atuou com a irmã no filme "Alô, alô, carnaval", de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro. Em 1936, atuou com a irmã no filme "Cidade mulher", de Humberto Porto, onde apresentaram a música título (de Noel Rosa), cantando com Orlando Silva. Ainda com a irmã, excursionou por quatro meses pela Argentina, Peru e Chile. Em 1940, casou e encerrou a dupla com a irmã. Em 1944, gravou seu primeiro disco solo, pela Continental, com acompanhamento do Conjunto Tocantins, interpretando os sambas "Arrastando o pé", de Peterpan e Afonso Teixeira e "Samburá", de Valfrido Silva e Gadé. No ano seguinte, gravou um disco com quatro músicas, fato raro na época, com as marchas "E o mundo se distrai" e "Meu amor és tu", de Amado Régis, Gadé e Almanir Grego e "Cabelo azul" e "Briga de peru", de Roberto Martins e Herivelto Martins. No mesmo ano, gravou os sambas "Na feira do cais dourado", de Nelson Teixeira e Nelson Trigueiro e "Um ranchinho na lua", de Babi de Oliveira com acompanhamento de Clauionor Cruz e seu regional.
Em 1949, transferiu-se para o selo Star e estreou com a "Marcha do ré" e o samba "Sangue e areia", da dupla Sebastião Gomes e Nelson Teixeira com acompanhamento de Sílvio César e sua orquestra. Em 1950, gravou o samba jongo "Batuca daqui, batuca de lá", primeira composição de sua autoria, parceria com Antônio Valentim. No mesmo ano, gravou os baiões "Vamos pescar", de sua parceria com Antônio Valentim e "Sururu de capote", de Ramiro Guará e José Cunha com acompanhamento do Quarteto Copacabana com Abel Ferreira no clarinete. Em 1951, gravou mais duas composições de sua autoria, o baião "Saudade que vive em mim", parceria com Antônio Valentim e o samba "Cassetete, não!" com acompanhamento do Conjunto Star. No mesmo ano, gravou no selo Carnaval a marcha "A rainha da mata", de sua parceria com Antônio Valentim e a batucada "Pau rolou", de Sátiro de Melo e Manoel Moreira.
Em 1953, foi para a gravadora Todamérica e lançou os sambas "Reticências", de sua autoria e "Sou feliz", parceria com M. Zamorano. Gravou ainda pelo selo Marajoara o samba "Vela acesa", de sua autoria, Antônio Valentim e Orlando Gazzaneo e a marcha "Viva los toros", parceria com Orlando Gazzaneo. Seu últimpo disco foi pelo pequeno selo Ritmos onde registrou a marcha "Marreta o bombo" e o samba "Condenada", de sua autoria.
Seguiu carreira como estrela do teatro de revista. Alcançou grande notoriedade, sobretudo por sua atuação como vedete, sendo considerada uma das mais belas mulheres de sua época - os anos 1940, 1950 e até começo dos 1960. A partir dos anos 1970, começou a pintar, passando logo depois a desenhar temas esotéricos em pintura. Em meados dos anos 1990, demonstrando grande instabilidade de comportamento, ao alterar momentos de euforia com rasgos de ira, recusou-se terminantemente a fazer depoimento para o Museu da Inglaterra. Passou os últimos anos de vida solitária e arredia em seu apartamento em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Sua morte somente foi divulgada pela irmã, que morava nos Estados Unidos, três meses depois de ocorrida.